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FILÓSOFO ESCREVE SOBRE O BRASIL

FILÓSOFO ESCREVE SOBRE O BRASIL VOLTAIRE Acabamos de ver, no meio das terras da América, multidões de povos civilizados, in¬dustriosos e aguerridos, descobertos e domi¬nados por um pequeno número de espanhóis. Mas os portugueses, conduzidos pelo florenti¬no Américo Vespúcio, tinham descoberto desde a época das viagens de Cristóvão Co¬lombo, no ano de 1500, países não menos vastos, não menos ricos e povoados por na¬ções completamente diferentes. Vespúcio chegou às costas do Brasil situadas perto do Equador. E o terreno mais fértil da Terra, o céu mais puro e o ar mais saudável. O vento do Orien¬te, que a rotação da terra em seu eixo faz gerar continuamente entre os dois trópicos, depois de atravessar mil léguas de mar, traz ao Brasil uma doce aragem que tempera o calor de um sol sempre vertical e garante uma primavera eterna. As árvores desse solo desprendem um odor delicioso. As montanhas têm ouro, as rochas, diamantes e todas as frutas nascem nos campos não cultivados. A vida dos

A guerra sem fim da razão

A guerra sem fim da razão A batalha de Voltaire pelos direitos humanos permanece inacabada no Brasil e no mundo SÉRGIO PAULO ROUANET Especial para a Folha Em que sentido podemos dizer que a batalha de Voltaire pelos di¬reitos humanos ainda é indefini¬damente atual", nas palavras de Valéry? Ela é atual, no Brasil e no mun¬do, porque está inacabada. E atual porque apesar de progressos Im¬portantíssimos. muitas das aberra¬çôes que Voltaire combateu renasceram ou se agravaram. E o que podemos verificar em cada um dos direitos pelos quais Voltaire se ba¬teu. É o caso do direito à razão, o valor mais alto da Ilustração e o mais decisivo para Voltaire, porque é a condição de possibilidade de todos os outros. O pensamento ainda está sujeito a restrições poli¬ciais em grande parte da humani¬dade. Nos países em que elas não existem, a "servidão voluntária'' induzida pelo conformismo e pela propaganda impede as pessoas de pensarem por si mesmas. Os fundamentalismos reli

Letras e Luzes de Voltaire

Domingo 20 de novembro de 1994 mais! Folha de São Paulo 6-4 Letras e Luzes de Voltaire Amanhã faz 300 anos que o filósofo, dramaturgo, poeta e romancista François Marie Arouet nasceu em Paris RICARDO MUSSE Especial para a Folha À luz da situação atual da divisão intelectual do trabalho, a obra de Voltaire, em seu conjunto, soa anacrônica, confusa e até mesmo incompreensível. Admitimos o in¬teresse por todos os assuntos da cultura humana em gênios de uma outra época, como Da Vinci. Mas por que Voltaire, cujas opiniões são tão próximas às nossas e tão de acordo com a realidade do mundo industrial, não se concentrou em especialidades determinadas? Essa questão nem sempre é pos¬ta assim tão brutalmente. Aliás, na maioria das vezes, sequer é expli¬citada. Mas, nem por isso deixa de ser tematizada. Para uns, a trajetó¬ria de Voltaire resulta de um equívoco. Ele quis, inicialmente, ser o sucessor de Racine- logo, um continuador do classicismo poéti¬co- visando, num arrivismo

A TEORIA DE MARX, A CRISE E A ABOLIÇÃO DO CAPITALISMO

Robert Kurz A TEORIA DE MARX, A CRISE E A ABOLIÇÃO DO CAPITALISMO Perguntas e respostas sobre a situação histórica da crítica social radical Nota: A entrevista que se segue constitui a introdução a uma colectânea de análises e ensaios do autor a publicar em França. O que torna esta crise diferente das anteriores? O capitalismo não é o eterno retorno cíclico do mesmo, mas um processo histórico dinâmico. Cada grande crise se encontra num nível de acumulação e de produtividade superior aos do passado. Portanto, a questão da dominação ou não dominação da crise coloca-se de forma sempre nova. Os mecanismos anteriores de solução perderam a validade. As crises do século XIX foram superadas porque o capitalismo ainda não tinha coberto toda a reprodução social. Havia ainda um espaço interno de desenvolvimento industrial. A crise económica mundial dos anos de 1930 foi uma ruptura estrutural num nível muito mais elevado de industrialização. Ela foi dominada através de novas indús

Platão matemático e Euclides e a curva de Gauss

Platão (427-347 a.C.) foi um filósofo entusiasta da matemática a qual via como uma ciência que independe da experiência. Já Euclides de Alexandria (c. 300 a.C.), na obra Os elementos o uso exclusivo da régua e do compasso nas construções geométricas é uma constante. Os polígonos regulares construídos por Euclides destacam-se pela beleza e utilidade (triângulo, quadrado, pentágono, hexágono, decágono e pentadecágono). O pentágono regular é muito provavelmente uma herança da matemática pitagórica. Euclides - o boa luz - (figura ao lado) é sempre referido como o Pai da geometria. Karl Friedrich Gauss (1777-1855) conseguiu demonstrar que o heptadecágono regular (17 lados) pode ser construído com régua e compasso apenas..... Mais tarde ele descobriu uma regra geral pela qual se determina se um polígono regular pode ou não ser construído com régua e compasso. Foi uma menino prodígio....

As práticas de leitura enquanto práticas sociais

David Barton Em todas as colectividades, os modelos comuns libertam-se das actividades da leitura e da escrita. É preciso ver estas práticas como elementos das práticas sociais. As pessoas agem por uma razão qualquer; elas perseguem os seus objectivos. A leitura e a escrita servem outros fins. Normalmente, as pessoas não lêem por ler e não escrevem por escrever, lêem e escrevem para fazer outra coisa, para atingirem outros fins. As pessoas querem saber a que horas parte um comboio ou como funciona um novo relógio ou um magnetoscópio; querem manter o contacto com um amigo; querem fazer-se entender. Têm que pagar as facturas, saber cozer um bolo de aniversário. Ler e escrever podem fazer parte destas actividades sociais. Elas integram-se de diferentes maneiras_ Podem fazer parte da actividade ou ter uma relação mais complexa. Le_ escrever são muitas vezes uma opção entre outras para atingir um dado fim de comunicação; para saber a que horas parte um comboio, pode escolher-se entre

Do poder da palavra

DO PODER DA PALAVRA ADÉLIA BEZERRA DE MENESES Em "As 1001 Noites", Sheherazade vence a morte e o poder, propiciando a cura através de um discurso vivo, corpóreo “As 1001 Noites" em geral nos chegaram através de antologias infantis. Conhececemos as Histórias: "Sindbád, O Marujo", "Aladim e a Lâmpada Maravilhosa¬”, "O Pescador e o Gênio” etc. Mas tais antolo¬gias acabam por privar o leitor do plano geral da obra - a estrutura de encaixe dos contos, embutido uns dentro de outros- e, sobretudo, da poderosa figura da Shehera¬zade, que vence a morte através da Literatura. Tra¬ta-se da maior apologia da Palavra, de que se tem conhecimento. E analisar o papel da contadeira de histórias significará abordar o problema das relações da mulher com a Literatura, da mulher com a Palavra, da mulher com o símbolo e com o corpo. Sheherazade é personagem da narrativa que inicia e termina "As 1001 Noites", servindo-lhes de moldura; é a partir dela que s